Pensava nestes dias em alguns momentos do II Congresso Mundial de Psicologia Positiva, e veio-me à ideia o enorme grupo de mais de 1200 participantes a completarem, ao mesmo tempo, o psicólogo Chris Peterson, na sua ideia. "É que, vocês já sabem..."- dizia ele na sua apresentação. "OTHER PEOPLE MATTER!" (Os outros importam) gritava a maior parte da sala em uníssono, como se fosse algo tão repetido e aceite que de tão óbvio se tornasse evidente.
Esse momento ficou. E faz-me sorrir não só por imaginar o coro unânime aos gritos, mas por ser também algo que no meu percurso pessoal tem estado tão presente.
Os outros.
Os outros são um todo maior, que se reflete nas partes e que parte quase sempre de nós.
Quem escolhi para a minha rede? Com quem teci e venho tecendo este intrincado de fios que compõem um mundo em si mesmo?
No trabalho, no lazer, na família, nos amigos, nas instituições, nas passagens fugazes de estações de metro ou viagens longas de comboio, quem me constrói, a quem construo?
Em cada troca se deixa e se traz. Mais do outro, mais de nós.
Já aprendi de interações que nunca pensei chegarem a ser possíveis: de indigentes de rua de quem me tornei amiga cúmplice; de crianças de 7 anos e adolescentes de 13; de desconhecidos que me deitaram uma mão no momento certo. Já aprendi só por me ter deixado ir e seguir as pistas de outros. Por aceitar que a sua história teria algo rico por trás dos olhos aparentemente desinteressados.
Já aprendi enquanto dava de comer. Aprendi de quem se foi cedo, e de quem há muito tempo cá está.
Aprendo ao ir ao pão, ao reclamar dos sapatos que têm defeito, ao trocar o olhar com o tocador de flauta no passeio a pé, ao Domingo.
Aprendo com os amigos que me conhecem os ângulos mais escuros e com quem partilho os mais claros. Aprendo de interações em reuniões profissionais sérias e nas que se convertem em gargalhadas espontâneas.
Aprendo quando me trazem uma sopa fria ou quando me trazem uma sobremesa oferecida.
Aprendo de quem me insulta por nada, numa rua fria e de quem me aquece o frio numa sala fechada.
Aprendo e dou. De mim, do que tenho, do que levo, do que sou.
Num movimento contínuo de partilha, tantas vezes inconsciente, de palavras, olhares, passos, estares.
Os outros importam. Sim.
Os outros, os que passam em cada momento mais ou menos perto, tingem com as suas cores aquilo que fui, sou, aquilo em que me vou transformando.
Os outros importam porque refletem e levam mais de nós, para mais longe.
E coleciono palavras ditas por outros, gestos vistos noutros, olhares apanhados de outros, histórias construídas com outros, nesta vida que se constrói, com eles.
Volto a sorrir, vejo-me a gritar a pleno pulmão "Os outros importam!" enquanto me desfilam invisíveis uns "outros" que estiveram, por anos ou por segundos, no universo que se constroi.
Eu acho que o Peterson tem razão.
(Texto original em Português)