Em tempos de inquietação com estas questões, ficam aqui algumas leituras que convidam a reflexões mais amplas, mais próximas e mais humanas.
Uma lista em construção, bem aberta a novas sugestões.
"O outro" - Ryszard Kapuscinski. Campo das Letras(...) Durante os últimos cinco séculos, a cultura e a civilização europeias dominaram e, por isso, quando dizíamos "nós" pensávamos "nós, toda a gente", quando, de facto, se tratava unicamente de nós, Europeus. Contudo, hoje estamos a entrar, de forma inelutável, na época em que as mudanças históricas põem em causa a equação Nós= Europeus, como sinónimo de todos os homens na Terra." (...) Primeiro é importante lembrar e falar constantemente dos Outros, porque hoje são actores importantes no palco do Mundo; segundo, apesar de ser difícil de provar que a história é mestre da vida, temos de guardar na memória o balanço infeliz das nossas relações com os Outros." |
"Totalidade e Infinito" - Emmanuel Levinas. Edições 70"A liberdade consiste em saber que a liberdade está em perigo. Mas saber ou ter consciência é ter tempo de evitar e prevenir o momento de inumanidade." "A guerra não manifesta a exterioridade e o outro como outro; destrói a identidade do Mesmo." "A violência não consiste tanto em ferir e em aniquilar como em interromper a continuidade das pessoas, em fazê-las trair, não apeas compromissos, mas a sua própria substância, em levá-las a cometer atos que vão destruir toda a possibilidade de ato." |
"Olhando o sofrimento dos outros" - Susan Sontag. Quetzal"De facto, há muitas utilizações das inumeráveis oportunidades que a vida moderna fornece de olharmos - à distância, através da fotografia - o sofrimento dos outros. as fotografias de uma atrocidade podem dar origens a respostas contraditórias. Um apelo à paz. Um grito de vingança. Ou simplesmente a aturdida consciência, continuamente alimentada pela informação fotográfica, de haver coisas terríveis que acontecem." |
"Persépolis" - Marjane SatrapiUma novela gráfica em primeira pessoa de uma iraniana - Marjane - e da sua história, que nos leva a viajar por dentro da situação política do seu Irão, pela forma como os estrangeiros são tratados longe da própria pátria, pelo preconceito, pelos estereótipos alimentados pelos meios de comunicação social,... Acima de tudo, uma viagem por um mundo diferente, contada desde dentro. Um livro que, sem qualquer tipo de texto, apenas através de desenhos absolutamente cativantes e extraordinários e apelando a uma estética muito peculiar e a mundos totalmente inventados, explica os desafios da saída do mundo conhecido e habitual e a integração num novo contexto, com todas as dificuldades, desafios e necessidades postos à prova. "É indubitável que nunca como hoje está tão difundido no mundo o conhecimento das grandes ideias da humanidade. Nunca, contudo, foi a sua influência também tão diminuta. Os pensamentos de Platão e Aristóteles, dos Profetas e de Cristo, de Espinoza e de Kant são hoje conhecidos por milhões de pessoas cultas na Europa e na América. Eles são ensinados em inúmeras Escolas, sobre alguns deles fazem-se prédicas em todo o mundo nas Igrejas de todas as confissões. E tudo isto se verifica simultaneamente num mundo em que se presta obediência aos princípios de um egoísmo sem limite, se cultiva un nacionalismo histérico e se prepara um tresloucado genocídio. Como é possível explicar semelhante contradição?" |
Sugestões para continuar esta lista? E, se já leram algumas destas obras, que poderiam destacar, que reflexões seguiriam estes trechos?
Que se continuem a construir mundos de conhecimentos mais abertos, mais permeáveis à mudança e à adaptabilidade que o mundo em constante rotação nos exige. Venham daí os contributos, construa-se, entre todos, um corpo de perspetivas mais e mais aberto. Por onde continuamos a ler?